quinta-feira, 24 de abril de 2008

Incapacidade de Respostas!

Ao confrontar-me com algumas afirmações, seja na televisão, num ou noutro escrito, ou particularmente atento à realidade que me envolve – sem pretensão nenhuma da minha parte! -, sinto que a nossa maior dificuldade, de ministros da Igreja, é a de dar resposta aos grandes desafios que nos são colocados: a problemática da Fé e as «razões» para acreditar; a Moral; o significado da Igreja e sua missão… etc. etc.…
Sinto que no momento em que vivemos se cruzam duas orientações, como dois caminhos que teimam em não se cruzar: as preocupações imediatas da Igreja e as principais questões que se colocam aos nossos contemporâneos!
Nós, homens de Igreja, vivemos assoberbados por um conjunto de tarefas pastorais a que temos de dar resposta, quase maquinalmente programados para responder a tudo, segundo as exigências dos nossos serviços. Os nossos contemporâneos (mesmo que nem todos, num imediatismo que persiste!) debatem-se com questões de fundo: razões para a sua fé, para a sua esperança; reclamando – mesmo que de forma passiva! – uma outra presença de Igreja: mais credível; mais atenta às preocupações de fundo; capaz de responder às suas inquietações; em suma, portadora de razões para acreditar.
Mas responder às inquietações dos nossos contemporâneos pressupõe capacidade de parar para os ouvir; capacidade de escuta das suas aspirações; capacidade de entender as suas dúvidas, as suas incertezas (ou certezas!); capacidade de ler o mundo que nos rodeia.
Mas responder às inquietações dos nossos contemporâneos pressupõe capacidade de reflectir, de aprofundar conhecimentos, de renovar conceitos, de ser credível nas nossas intervenções. O mundo de hoje, na clivagem de ideias, não se compadece de respostas feitas e prontas a servir. Tem de haver convicção, conhecimento, razoabilidade.
Este é o maior desafio que nos é feito!
Em tempo pascal, tomando como leitura os Actos dos Apóstolos – leitura que se renova em cada dia, na Eucaristia – vemos como os discípulos instituíam novos ministérios para eles se de dedicarem à pregação. Nunca descuraram a sua tarefa primordial! Não deixa de ser para mim um questionamento esta atitude! E como respondemos nós às inquietações do nosso tempo? E o que privilegiamos na nossa acção pastoral?
Mais: o que privilegiam os nossos Bispos? O que esperam dos seus padres? O que exigem como tarefa primordial? Uma atitude primária de resposta ao imediato, na voracidade de exigências com que se deparam, ou uma atitude mais profunda de leitura dos tempos e da Palavra que lhes foi confiada, no dia da ordenação, para a anunciarem?
Estas são inquietações pessoais!
Bem sei que uma outra se sobrepõe, e que o mundo hodierno exige de sobremaneira – a autoridade da santidade! A verdadeira autoridade! Todavia, para sermos credíveis não podemos passar ao lado dos homens do nosso tempo. Bem pelo contrário: temos de os conhecer, de os ouvir profundamente, de ler as suas inquietações mais íntimas; para, então sim, responder: de forma credível, autorizada, convicta e esclarecida. Mas isto pressupõe a humildade da procura, a atitude de renovação das linguagens; a capacidade de nunca cristalizar, sob pena de falar ao homem de hoje imerso na consciência do homem de ontem.

Pe. Carlos Alberto da Graça Godinho