segunda-feira, 15 de outubro de 2007

As Bem-Aventuranças!

Este último fim-de-semana foi, para mim, um tempo rico de vivências e de comunhão espiritual: a entrada ao serviço de uma nova paróquia, que agora me é confiada; a partilha da experiência espiritual que emanava de Fátima, nos 90 anos das aparições e na dedicação da nova Basílica da Santíssima Trindade; a comunhão com o sofrimento de algumas pessoas que me estão próximas, por via da minha actividade pastoral. Tudo isto vivido num clima de alguma debilidade pessoal, porque, eu próprio, durante a última parte da semana anterior, fui vitima de uma forte amigdalite que me prostrou durante dois ou três dias. Talvez por isso mais sensível a um conjunto de sinais envolventes.
E foi na sequência desta maior sensibilidade ao sofrimento alheio que me ocorreu recordar-me das Bem-Aventuranças.
Muitas vezes julgamos tratar-se de um «discurso evangélico» que nos atira para a meta-história, isto é, para uma dimensão exclusiva do Reino que há-de vir em definitivo, esquecendo a dimensão intra-histórica, da concretização desse Reino aqui e agora, ainda que, sabemo-lo, não em definitivo. Ora, é isto que Cristo nos convida a viver: à Sua imagem, realizar aqui e agora o Reino de Deus, atentos, em particular, aos mais desfavorecidos.
De todas as Bem-Aventuranças, chamava-me particular atenção a terceira, segundo a formulação de Mateus: Bem Aventurados os aflitos, porque serão consolados. E percebi que este é um forte desafio à atenção de cada um de nós cristãos: quantos irmãos nossos, ao nosso lado, vivem tantas formas de «aflição» física, psicológica, afectiva, moral, económica, material, eu sei lá… sem que nós nos apercebamos das suas necessidades? Muitas vezes porque demasiado centrados em nós, incapazes de estar atentos a quem nos rodeia.
E se escrevo no plural, devo fazê-lo também no singular. Quantas vezes, eu próprio vivo demasiado centrado nas minhas preocupações e desatento relativamente a quem me rodeia? E quis deixar que esta Bem-Aventurança fosse um desafio para mim: levar consolação a quem está aflito. Pouco importam os modos ou a intensidade dos gestos; importa, sim, a sua permanência numa atitude de presença e de ajuda a quem sofre.
Nesta hora, algumas pessoas estão bem presentes no meu coração, por quem rezo a Deus, no sentido de encontrarem consolação; estão presentes na minha acção, na justa medida do que me é possível fazer por elas.
Mas, ao mesmo tempo, o consolo gera em nós acção de graças. A experiência da doença ou de qualquer forma de dor, quando encontra acolhimento na disponibilidade do irmão, faz-nos reconhecer este prolongamento da bondade de Deus expressa nas mãos de quem nos acolhe. Ter tido uma pequena experiência de dor, nestes dias, permitiu-me valorizar o dom de Deus que é o outro, expresso no rosto de quem nos acompanha. Em definitivo, é mais uma lição de vida a recordar-me o Evangelho. E a lembrar-me, sobretudo, que as Bem-Aventuranças são um desafio contínuo à minha vivência como cristão e como padre.