PARA QUE NÃO
SE ESQUEÇA!...
Completa-se, no próximo
domingo, um ano sobre os terríveis incêndios que assolaram os concelhos de
Pedrogão Grande, Castanheira de Pêra e Figueiró dos Vinhos. Um drama terrível,
com as consequências humanas e patrimoniais que todos pudemos constatar.
Um
ano volvido, importa fazer memória! Exatamente para não esquecermos! Com o
intuito de reviver o flagelo daqueles dias? Certamente que não! Ressuscitando a
angústia e a dor que perpassaram as vidas de tantos irmãos nossos naquelas
horas aflitas? Certamente que também não! Embora conscientes de que existem
ainda muitas dores não saradas, vidas resignadas à sua sorte, na memória viva
da perda de familiares ou amigos, ou na constatação prática de um património
perdido, dificilmente recuperável ou que efetivamente pereceu para sempre.
Sabemos que existem pessoas, nestes concelhos, que se reerguem com dificuldade,
bem à imagem daquele pinhal que se recupera no fluir do tempo e que é um pálido
símbolo destas vidas em recomposição.
Jamais podemos esquecer as vidas humanas perdidas naquele incêndio!
Adultos, jovens, crianças, idosos… Quantos sonhos, projetos e perspetivas de
vida se desfizeram em cinza, com aquelas vidas perdidas?!... Fazer memória
destes irmãos que partiram é um dever nosso!
Mas
fazer memória, também, dos múltiplos bens patrimoniais perdidos – privados e
públicos. Se é certo que nada se compara à perda de uma habitação ou dos bens
de sustento, que muitos viram inesperadamente desfeitos no flagelo das chamas, sem
equiparação em termos de perdas; também é verdade que todos nós fomos
desapossados de um imenso património verde, que assegura o equilíbrio da nossa
vivência comum e distingue o país que somos, na sua beleza paisagística.
Realidade ainda mais agravada nos incêndios de Outubro. Porventura um flagelo
que o tempo poderá refletir nas nossas vidas, à medida que o futuro se fizer
presente.
Mas,
volvido um ano, é tempo de fazer memória para um renovado empenho na
reconstrução do que o fogo fez perecer. Se as vidas humanas não se podem
recuperar para a nossa história comum, lembramo-las, em atitude humana ou de
fé, nessa outra dimensão da existência, no coração ou na eternidade que, em
qualquer dos casos, é sempre motivo de esperança. Distinta, mas motivo de
esperança!
Urge, para que a memória seja ativa, recuperar o que necessita de
recuperação, para assegurar uma vida digna a quem ficou sem recursos, e rever
as nossas formas de agir, no sentido de assegurar um futuro mais seguro, sereno
e tranquilo diante destes fenómenos que, com maior ou menor gravidade, tendem a
assolar o nosso território. Neste sentido, a melhor forma de fazer memória será,
por certo, persistir na mobilização solidária e fraterna, partilhando ainda com
quem necessita da nossa generosidade e atenção. E tenhamos presente que ainda
existem algumas carências a necessitar da nossa ajuda. Corremos o risco, na
volatilidade do tempo e na hodierna volatilidade da informação, de rapidamente
passarmos a outras preocupações, sem nos determos mais naquilo que a todos
mobilizou num passado recente. O presente carece ainda de alguma
disponibilidade para correspondermos, todos juntos, às necessidades destes
nossos irmãos.
Mas
fazemos igualmente memória para assumir, de vez, as medidas públicas e privadas
que assegurem uma nova gestão da floresta, na sua requalificação e
reorganização. Estas medidas são acatadas às autoridades públicas, mas são
responsabilidade igual das entidades particulares, mormente dos proprietários
florestais. Temo que, neste aspeto, não tenhamos aprendido a lição. Não basta
que as entidades públicas decretem medidas de limpeza e de resguardo das
habitações. É necessária outra disponibilidade e determinação, da parte dos
particulares, para se assumir, em conjunto, uma nova gestão da floresta,
assumindo as disposições legais já definidas, seja no que toca à continuidade
ou descontinuidade de espécies florestais, seja no que se refere à necessidade
de aceiros, seja nas demais medidas que urge implementar. E, neste aspeto, pelo
que me é dado ver, estamos a falhar!
Fazer memória para que não se esqueçam os que partiram e os que carecem
da nossa presença solidária. Mas fazer igualmente memória para reconstruirmos
um território mais seguro, mais ecológico e mais aprazível.
Pampilhosa, 14 de Junho de 2018
Pe. Carlos Alberto G. Godinho
(92ª Reflexão)