quarta-feira, 24 de outubro de 2007

O Santuário de Fátima!

Com a nova Basílica da Santíssima Trindade, o Santuário de Fátima tornou-se verdadeiramente uma grande «cidade» de oração, continuando na perspectiva de permitir aos peregrinos ter novos espaços de recolhimento, particularmente centrados na celebração da Eucaristia. A sensação que tive ao visitar o novo espaço e ao ver o seu enquadramento no todo do Santuário, é exactamente essa: Fátima convida-nos cada vez mais à oração. Pouco importa o que é acessório - ao mesmo tempo que necessário para a concretização das obras -; o que importa é a dimensão espiritual para a qual somos elevados. Pessoalmente, fez-me muito bem passar por Fátima nestes dias!

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Pobreza!

Hoje, ao celebrarmos o Dia Mundial contra a Pobreza, fiquei «chocado» ao ouvir as notícias que nos davam conta de que em Portugal existem dois milhões de pobres. Dois milhões, em cerca de dez milhões de portugueses. Fiquei triste ao saber que as diferenças entre ricos e pobres se estão a agravar cada vez mais. Fiquei triste ao saber que a pobreza perpassa já pelo meio de uma certa classe média portuguesa, até aqui assim definida.
Para onde caminhamos nós? Que comunidade estamos a construir? Assente em que valores?... E nós, cristãos, que estamos a fazer no sentido de ir ao encontro efectivo de quem tem necessidade? Bem sei que muito está para além das nossas possibilidades. Mas será que temos feito tudo para ajudar a resolver a multiplicidade de problemas que se vão erguendo ao nosso lado? Ou permanecemos na tranquilidade das nossas consciências e dos nossos «ritos»?
E não se trata, aqui, de uma certa vivência da caridade, mas sim de uma exigência de justiça. Por isso, a petição da Comissão Justiça e Paz, que pude assinar, faz todo o sentido: é necessário considerar a pobreza como um dos maiores flagelos que atormenta um considerável número dos nossos concidadãos.
E para nós fica sempre aquele desafio do Evangelho: o que fizeste a um dos meus irmãos mais pequeninos, a Mim o fizeste!...

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

As Bem-Aventuranças!

Este último fim-de-semana foi, para mim, um tempo rico de vivências e de comunhão espiritual: a entrada ao serviço de uma nova paróquia, que agora me é confiada; a partilha da experiência espiritual que emanava de Fátima, nos 90 anos das aparições e na dedicação da nova Basílica da Santíssima Trindade; a comunhão com o sofrimento de algumas pessoas que me estão próximas, por via da minha actividade pastoral. Tudo isto vivido num clima de alguma debilidade pessoal, porque, eu próprio, durante a última parte da semana anterior, fui vitima de uma forte amigdalite que me prostrou durante dois ou três dias. Talvez por isso mais sensível a um conjunto de sinais envolventes.
E foi na sequência desta maior sensibilidade ao sofrimento alheio que me ocorreu recordar-me das Bem-Aventuranças.
Muitas vezes julgamos tratar-se de um «discurso evangélico» que nos atira para a meta-história, isto é, para uma dimensão exclusiva do Reino que há-de vir em definitivo, esquecendo a dimensão intra-histórica, da concretização desse Reino aqui e agora, ainda que, sabemo-lo, não em definitivo. Ora, é isto que Cristo nos convida a viver: à Sua imagem, realizar aqui e agora o Reino de Deus, atentos, em particular, aos mais desfavorecidos.
De todas as Bem-Aventuranças, chamava-me particular atenção a terceira, segundo a formulação de Mateus: Bem Aventurados os aflitos, porque serão consolados. E percebi que este é um forte desafio à atenção de cada um de nós cristãos: quantos irmãos nossos, ao nosso lado, vivem tantas formas de «aflição» física, psicológica, afectiva, moral, económica, material, eu sei lá… sem que nós nos apercebamos das suas necessidades? Muitas vezes porque demasiado centrados em nós, incapazes de estar atentos a quem nos rodeia.
E se escrevo no plural, devo fazê-lo também no singular. Quantas vezes, eu próprio vivo demasiado centrado nas minhas preocupações e desatento relativamente a quem me rodeia? E quis deixar que esta Bem-Aventurança fosse um desafio para mim: levar consolação a quem está aflito. Pouco importam os modos ou a intensidade dos gestos; importa, sim, a sua permanência numa atitude de presença e de ajuda a quem sofre.
Nesta hora, algumas pessoas estão bem presentes no meu coração, por quem rezo a Deus, no sentido de encontrarem consolação; estão presentes na minha acção, na justa medida do que me é possível fazer por elas.
Mas, ao mesmo tempo, o consolo gera em nós acção de graças. A experiência da doença ou de qualquer forma de dor, quando encontra acolhimento na disponibilidade do irmão, faz-nos reconhecer este prolongamento da bondade de Deus expressa nas mãos de quem nos acolhe. Ter tido uma pequena experiência de dor, nestes dias, permitiu-me valorizar o dom de Deus que é o outro, expresso no rosto de quem nos acompanha. Em definitivo, é mais uma lição de vida a recordar-me o Evangelho. E a lembrar-me, sobretudo, que as Bem-Aventuranças são um desafio contínuo à minha vivência como cristão e como padre.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

É necessária uma estratégia para a Diocese de Coimbra!

Agora que fazemos avaliação de um quinquénio pastoral na Diocese de Coimbra e que nos confrontamos com as suas mais prementes necessidades, não deixo de pensar que é necessária uma verdadeira estratégia para a nossa Diocese. A avaliação, incidindo nas temáticas do Plano, deve compaginar-se com propostas de futuro, que respondam aos mais urgentes desafios que se nos colocam. Esta será a forma de aproveitar este ano pastoral, dando-lhe um cunho, simultaneamente, de avaliação e programação. Outro modo será dizer de avaliação pró-activa.
Como sabemos, estratégia, expressão derivada da linguagem militar, propõe-nos a adequação de meios em ordem a alcançar os objectivos definidos para determinada acção. Ora, é disto mesmo que a Diocese precisa: redefinir os objectivos a alcançar, a médio e longo prazo, e equacionar os esforços a implementar em ordem à sua concretização.
De outro modo, continuaremos a marcar passo, não assumindo compromissos estruturantes que dêem respostas capazes às necessidades do presente e do futuro, em ordem à missão da Igreja, assumida no contexto desta Igreja Particular de Coimbra. E não podemos alhear-nos de que continuamos com a manutenção de respostas que se situam no quadro do passado, não respondendo já à actual realidade eclesial e social; desgastando os agentes de pastoral (bispo, padres e leigos…) física, psíquica e emocionalmente; não preparando uma resposta inadiável face ao futuro que se avizinha.
Neste sentido, sem pretender focar todos os aspectos (só a temática da Evangelização e Reevangelização seria suficiente para um artigo), proponho três elementos estruturantes:
1 – É necessário retomar, com a maior brevidade possível e o maior empenho de todos, as Unidades Pastorais. Para tal, é prioritária uma reflexão profunda, que envolva, o mais possível, todos os cristãos, sobre a reestruturação do território diocesano. Algumas Dioceses começaram já, ainda que uma ou outra timidamente, a fazê-lo.
2 – Articulado com o primeiro ponto, é necessário implementar um verdadeiro espírito de corresponsabilidade: do bispo com todo o presbitério e todos os seus diocesanos; dos padres entre si, em verdadeira unidade presbiteral, diluindo todas as formas de isolamento e de individualismo pastoral; empenhando efectivamente, numa séria participação de toda a missão da igreja, os leigos da diocese, particularmente os que se vão manifestando mais responsáveis; empenhando as comunidades paroquiais no sentido de suscitarem no seu seio os ministérios e serviços de que têm realmente necessidade.
3 – Urge reequacionar e requalificar a formação de leigos. Depois de alguns anos de experiência de formação laical, particularmente com a Escola de Leigos e com a Escola de Música Sacra, há necessidade de criar sinergias, de potenciar esta formação e de lhe definir um plano articulado que se oriente para o exercício dos Ministérios. Tem sido meritória a acção da Escola de Música Sacra; tenho registado com agrado a acção da Escola de Leigos, projecto em que me sinto envolvido. Todavia, parece-me uma formação ainda desaproveitada, no sentido de qualificar quem assume Ministérios Eclesiais. Uma Escola de Ministérios é uma das necessidades da Diocese.
São três campos de acção prioritária ente tantos outros que podíamos equacionar.
Parece-me que só assim, privilegiando factores estratégicos para a concretização da missão da Igreja entre nós, podemos responder com mais eficácia ao presente e preparar o futuro que urge. Não podemos esquecer que já gastámos demasiado tempo sem conseguirmos dar passos concretos para uma reestruturação que se impõe. A diocese, e cada um de nós, só tem a ganhar quando todos nos empenharmos, em verdadeira comunhão, em assumir conjuntamente a missão que é de todos. Além disso, é de todos a responsabilidade pelo presente e pelo futuro desta Igreja, necessariamente aberta a encontrar novos caminhos de fidelidade à sua missão!